quinta-feira, 30 de outubro de 2008

a solidão é uma sina.

Acho que nunca vi verdadeiramente as coisas assim, mas hoje me veio o aprofundamento de uma idéia que já fazia algum sentido pra mim há tempos: Sempre fazemos tudo sozinhos. Dizem que a única coisa que fazemos verdadeiramente sozinhos, é morrer, mas isso não é verdade. O que sentimos é único, e por mais que você esteja fazendo exatamente a mesma coisa que outra pessoa, por mais que ela esteja ali com você, e por mais que você goste da companhia dessa pessoa, estamos sempre sós, aquela pessoa nunca vai sentir exatamente o que você sente e você nunca vai sentir exatamente o que ela sente. Não num sentido ó-céus-estou-sozinha-no-mundo, nada de cruel, nem vazio, nem dramático, mas num sentido até bem feliz, algo no sentido de incomparabilidade, de falta de parâmetros e exclusividade. Existem sim, as pessoas que vão te entender, as pessoas que vão caminhar com você e as pessoas que parecem que até fazem parte de você, mas obviamente nenhuma delas sabe de você tanto quanto você mesmo, e nenhuma delas aplicará significados como você. Frases do tipo "Suas ações são iguais a de fulano" ou "Você gosta tanto disso quanto cicrano" ou "Você é igualzinho beltrano" fazem nenhum sentido, as mesmas coisas tem significados diferentes para pessoas diferentes, e somos todos diferentes, e céus, como isso é fantástico...

where was I?...

Now at last
Feist

Now at last I know
What a fool I've been,
For have lost the last love
I should ever win.

Now at last I see
How my heart was blind,
To the joys before me
That I left behind.

When the wind was fresh on the hills,
And the stars were new in the sky,
And the lark was held in the still...
Where was I?
Where was I?

When the spring is cold,
Where do robins go,
What makes winter lonely?
Now at last I know...

When the wind was fresh on the hills,
And the stars were new in the sky,
And the lark was held in the still...
Where was I?
Where was I?

When the spring is cold,
Where do robins go,
What makes winter lonely?
Now at last I know...

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

quem não teria o vício de ser livre, após a consciência da liberdade?


- Eu sei - atalhou Marcelle -, não é um fim, é um meio. É para libertar-se a si próprio; olhar-se, julgar-se: sua atitude predileta. Quando você se olha, imagina que você não é o que está olhando, que você não é nada. No fundo, é o seu ideal: não ser nada.
- Não ser nada - repetiu lentamente Mathieu - Não. Não é isso. Escute: eu... eu gostaria de nada dever senão a mim mesmo.
- Sim. Ser livre. Totalmente livre. É seu vício.


Ora pois, bem verdade é que para uma pessoa que só vê sombras, e talvez feixes de luz raramente (já que qualquer coisa não pode ser só sombra sempre), a realidade para ela só pode ser a sombra, e não a luz, esporadicamente vista. Mas esta falsa realidade não advém nem mesmo do fato da pessoa ter "escolhido" aquela realidade para ela, e sim, talvez meramente pelo fato da aceitação, por não haver conhecimento de opções: Opções que poderiam mostrar que as sombras nada mais são do que projeções de objetos interpostos a luz, por vezes completamente opacos, que não permitem sua passagem em nenhuma instância.
A partir do momento em que as luzes começam a superar as sombras, uma nova consciência é atingida: Uma nova realidade é alcançada; a realidade da luz, a libertação de uma visão antiga e dogmática. Um novo mundo é descoberto... Um mundo de cores e formas, um mundo em que é possível a identificação de sons e cheiros, porque o que antes era vulto em sombra, agora é certo e definido, incontestável, talvez. E quem está na luz, tem como realidade a luz em todas as suas características, e não volta para a sombra, já que esta possibilidade teria nenhum sentido.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

you can't put your arms around a memory

Os famas para conservar suas lembranças tratam de embalsamá-las da seguinte forma: após fixada a lembrança com cabelos e sinais, embrulham-na da cabeça aos pés num lençol preto e a colocam contra a parede da sala, com um cartãozinho que diz: "Excursão a Quilmes", ou "Frank Sinatra".
Os cronópios, em compensação, esses seres dedosrdenados e frouxos, deixam as lembranças soltas pela casa, entre gritos alegres, e andam no meio delas e quando passa alguma correndo, acariciam-na com suavidade e lhe dizem: "Não vá se machucar", e também "Cuidado com os degraus". É por isso que as casas dos famas são arrumadas e silenciosas, enquando nas dos cronópios há uma grande agitação e portas que batem. Os vizinhos sempre se queixam dos cronópios, enquando os famas mexem a cabeça compreensivamente e vão ver se os cartõezinhos estão todos no lugar
(Julio Cortázar - Histórias de Cronópios e Famas)