quarta-feira, 15 de outubro de 2008

quem não teria o vício de ser livre, após a consciência da liberdade?


- Eu sei - atalhou Marcelle -, não é um fim, é um meio. É para libertar-se a si próprio; olhar-se, julgar-se: sua atitude predileta. Quando você se olha, imagina que você não é o que está olhando, que você não é nada. No fundo, é o seu ideal: não ser nada.
- Não ser nada - repetiu lentamente Mathieu - Não. Não é isso. Escute: eu... eu gostaria de nada dever senão a mim mesmo.
- Sim. Ser livre. Totalmente livre. É seu vício.


Ora pois, bem verdade é que para uma pessoa que só vê sombras, e talvez feixes de luz raramente (já que qualquer coisa não pode ser só sombra sempre), a realidade para ela só pode ser a sombra, e não a luz, esporadicamente vista. Mas esta falsa realidade não advém nem mesmo do fato da pessoa ter "escolhido" aquela realidade para ela, e sim, talvez meramente pelo fato da aceitação, por não haver conhecimento de opções: Opções que poderiam mostrar que as sombras nada mais são do que projeções de objetos interpostos a luz, por vezes completamente opacos, que não permitem sua passagem em nenhuma instância.
A partir do momento em que as luzes começam a superar as sombras, uma nova consciência é atingida: Uma nova realidade é alcançada; a realidade da luz, a libertação de uma visão antiga e dogmática. Um novo mundo é descoberto... Um mundo de cores e formas, um mundo em que é possível a identificação de sons e cheiros, porque o que antes era vulto em sombra, agora é certo e definido, incontestável, talvez. E quem está na luz, tem como realidade a luz em todas as suas características, e não volta para a sombra, já que esta possibilidade teria nenhum sentido.

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